Propaganda eleitoral, entre a proteção do eleitor e a distância

Quanto menos propaganda eleitoral temos, menos informações circulam, menos candidatos são conhecidos e tudo contribui ainda mais para a distância entre a sociedade e a política

Em um estádio de futebol lotado com milhares de pessoas emocionadas, após o show de diversos artistas e muitos efeitos especiais, um candidato a presidente da República encerra, cinematograficamente, sua campanha eleitoral.

Esta mistura de festa com política finalizou a campanha eleitoral para as eleições presidenciais realizadas no México no mês passado. Mas por que esta cena é tão estranha atualmente para nós, brasileiros?

No Brasil, cada vez mais a propaganda eleitoral é marginalizada. Enquanto boa parte da sociedade a ignora e se incomoda com a propaganda eleitoral, as regras do jogo também vêm considerando este tipo de propaganda como algo cada vez mais tóxico e perigoso.

Há tempos as reformas eleitorais vêm diminuindo os instrumentos e o tempo de propaganda eleitoral.

Assim, desde 2006 vimos proibindo os famosos showmícios, outdoors, brindes, cavaletes, limitando o tamanho dos adesivos, os tipos do material de fabricação, o local de fixação, o seu teor etc. –tudo isso em nome da proteção do eleitor.

Mas o curioso é que somos inundados todos os dias com propaganda de todos os tipos de produtos e serviços e isso não quer dizer que compramos tudo o que nos oferecem, ou que fazemos coisas que não queremos.

Parece que fora da política não somos considerados tão vulneráveis. Mas, na hora da tomada de decisão do eleitor, justamente no ambiente em que a liberdade deveria ser elevada ao seu grau máximo, a legislação brasileira limita a propaganda.

Com isso, parece interferir no jogo eleitoral, transferindo também o debate político para o Judiciário. Afinal, qual propaganda é capaz de conquistar mínima audiência sem ser alvo de impugnação na Justiça Eleitoral?

Por mais estranho que pareça, proteger o eleitor da propaganda eleitoral é incentivar o seu afastamento, é reforçar que a propaganda seria tóxica enquanto ele é considerado incapaz de se proteger.

Quanto menos propaganda eleitoral temos, menos informações circulam, menos candidatos são conhecidos e tudo contribui ainda mais para a distância entre a sociedade e a política.

No último dia 16 de agosto começou oficialmente a campanha eleitoral no Brasil. Desde esta data, os candidatos podem pedir votos, investir dinheiro e criatividade na propaganda eleitoral.

Mas, com uma campanha já reduzida e com meios de propaganda escassos, o desafio para os novos candidatos é ainda maior. Como ficar conhecido e convencer tanta gente em tão pouco tempo e com poucos meios de propaganda?

Nem a campanha, nem a política constituem um mal em si. O que faz mal é a distância, a indiferença e o ódio político.

A posição centralizadora do Estado, em proteger o eleitor ao extremo, parece que mais colabora com a sua distância do que com a igualdade das eleições. E é claro que os velhos conhecidos saem sempre na frente nesta disputa.

Alguns novos candidatos apelam para o ridículo na busca da viralização de seus poucos segundos de televisão; outros contam com a criatividade para estar em mais lugares ao mesmo tempo, investindo em uma presença virtual e real.

Mas muitos dos que se aventuram a participar deste jogo nem sequer conseguem sair de uma campanha sendo minimamente conhecidos do eleitorado. Afinal, não é fácil fazer propaganda com tantas restrições e com tanta resistência de seu público.

Mesmo sem artistas e efeitos especiais, precisamos de mais “festa” e engajamento nas eleições.

A propaganda deve ser um dos elos de conexão entre o eleitorado e os candidatos. Condenar a campanha é também condenar a democracia e a capacidade de escolha do eleitor.

Diogo Rais

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/diogo-rais/2018/08/propaganda-eleitoral-entre-a-protecao-do-eleitor-e-a-distancia.shtml

 

 

Ver mais notícias

Inteligência artificial e eleições 2024

Desde o caso paradigmático de Valença do Piauí, o TSE tem adotado a política de “tolerância zero” ao analisar candidaturas fictícias Por Paulo Henrique Golambiuk